Capa do livro Duna, de Frank Herbert

Duna é muito mais do que areia

Um livro de 680 páginas pode ser intimidador, mas a narrativa de Duna é tão rica e envolvente, que você achará o livro pequeno quando terminar

A vida de Paul Atreides muda radicalmente quando, após uma visita misteriosa, sua família se muda para o árido planeta Arrakis, onde devem viver emboscados entre artimanhas políticas de casas inimigas e a dureza do próprio planeta.

Introdução

Primeiro, devo dizer que me apaixonei por essa obra. Talvez por isso, não consiga trazer uma análise tão fria a respeito das qualidades técnicas do livro, mas aqui é o lugar onde expresso minha opinião, então tudo bem.

Vou falar sobre três grandes aspectos da obra: as dificuldades de se ler, o estilo da escrita e a mensagem base de Duna. Começando pelas dificuldades, como de costume, vou falar sobre a quantidade de informação que é despejada em você nas cem primeiras páginas. A escolha do autor é não levar a narrativa de forma mecânica, mas te mostrar um universo que já existe e funciona, muito antes de você começar a ler. Você é jogado num trem em movimento e cheio de gente.

Meu conselho é: Não tente entender tudo. Você não precisa entender tudo naquele momento e a experiência mais interessante é ficar perdido por um tempo até que as peças vão se encaixando. A confusão inicial, se vista da forma correta, apenas reforça a sensação de que você está entrando num mundo vivo e realista, apesar dos planetas e tecnologias futuristas.

A história se passa no futuro e o livro conta apenas um trecho da história da humanidade naquele momento e, assim como na história do nosso mundo, não existe um ponto inicial, o passado influencia em tudo e os fatos não começam e terminam como uma narrativa de um livro, e é essa a sensação que você tem em Duna. Você está vendo um fragmento da história daquele mundo, não um arco de aventura de um personagem fictício, mas um mundo real e vivo, que segue um ritmo orgânico.

O estilo da escrita

Dito isso, vamos a melhor parte do livro, o estilo da escrita. Você já deve ter feito ou tentado fazer malabarismo, você pode até ser muito bom, e acho que malabarismo é uma boa definição de como Frank Herbert lida com o ponto de vista e os pensamentos dos personagens em Duna. Ele passa de uma visão para a outra, explorando a mente e as emoções de cada pessoa na cena com uma naturalidade assombrosa.

Ele varia de pontos de vista no meio das cenas, e até de diálogos, sem quebrar o ritmo ou confundir o leitor. Demonstra um domínio da escrita num nível raramente visto e mesmo com vários pontos de vista, você não perde o foco da história ou do protagonista, Paul Atreides.

Além disso, a maior riqueza da história está no que se passa dentro da mente dos personagens. Os pensamentos e reflexões deles preenchem muito mais as páginas do que qualquer ação que estejam realizando, o foco não é em eventos que se seguem numa linha do tempo, mas os pensamentos e visões de mundo que interagem entre si, gerando os conflitos.

Certamente, não é um livro de aventura e ação, com várias emboscadas, batalhas (apesar das poucas batalhas do livro serem intensas) e nada relacionado ao mundo físico. A descrição dos ambientes é precisa e detalhada quando necessária, não para que você visualize os movimentos dos personagens ou por que há algo escondido na cena, mas para trazer à tona um sentimento ou realçar o ponto de vista de determinado personagem.

Tudo gira em torno dos personagens e seus mundos interiores.

A mensagem

Por fim, a mensagem. Frank Herbert nunca escondeu que o planeta Duna e os conflitos que o rodeavam eram uma analogia direta ao petróleo, o oriente médio e as grandes potências mundiais. Como ecologista, ele estava diretamente preocupado em mostrar em seu livro como a exploração de um ecossistema – e de um povo – podem ter consequências catastróficas. Claro que ele não deixa a analogia passar por cima da trama ficcional, que vai se tornando o foco da narrativa conforme o livro vai chegando ao fim.

Pelo contrário, ele emaranha a analogia à ficção de maneira muito sutil e simples, não sendo necessário escancarar os argumentos ecológicos, já que ele os demonstra na prática. Mesmo assim, seu mundo é muito diferente do nosso na aparência e é um prato cheio para fãs de mundos como Star Wars, Star Trek e até Guia do Mochileiro das Galáxias.

Para finalizar, vou resumir meu pensamento. O livro é lento, tão lento que das 680 páginas, as últimas 20 são a narração de um grande conflito, o resto é uma exploração maravilhosa e muito bem escrita do mundo interior dos personagens – pelos quais você cria um amor imenso – e dos conflitos políticos do mundo de Duna.

Caso você veja alguma referência a uma obra recente da ficção científica ou fantasia, saiba que essas obras que fazem referência à Duna. Vale muito a pena ler esse calhamaço e ele conquistou meu coração como quase nenhum outro livro já fez. Recomendo a todo mundo.

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